Caros amigos das sombras elétricas,
Antes de mais nada, peço imensas desculpas por ter abandonado vocês e me comprometo a não mais deixar a newsletter juntando poeira - pelo menos, não durante tanto tempo assim. Naturalmente, tenho explicações do porquê fiz isso. Podem não servir para muita coisa, mas, mesmo assim, vou reproduzir (com acréscimos) aqui um fio que postei esta semana no BlueSky.
Sim, também eu escapei do naufrágio do X / Twitter e me exilei no BlueSky, junto de milhões de nossos compatriotas de Pindorama. Como vocês sabem, eu vivo fora do Brasil e ainda tenho acesso ao Twitter (quem quiser notícias de lá, é só me pedir), mas a imensa maioria do público que acompanha as minhas produções de conteúdo de cinema é brasileiro; portanto, corri para o BlueSky (Threads nem pensar!).
Enfim, o que aconteceu foi o seguinte: eu não me afastei apenas da newsletter; larguei também o blog, o canal do YouTube, o podcast… Os motivos são diversos. Primeiramente, eu nunca consegui, em 18 anos que tenho o blog Sombras Elétricas, me dedicar exclusivamente ao cinema. Existem críticos, pesquisadores, professores que vivem e respiram cinema em tempo integral.
Meu sonho, logicamente, é viver de cinema (mesmo que modestamente), já tentei algumas portas, do modo como pude tentar ao longo desses anos todos, mas nada virou pra mim, até agora, de maneira suficiente para que eu pudesse abandonar minha carreira original (sou professor de Português e Literatura). Nunca hitei, nunca viralizei, nunca atraí um público para além de algumas centenas em média.
Por isso, quando outras responsabilidades profissionais ou de vida apertam o cerco, eu acabo largando o cinema e a cinefilia. Sou casado, tenho família com criança pequena, sou latinoamericano, sem dinheiro no banco e sem parentes importantes. Para mim não rola simplesmente sentar a bunda no sofá e ficar vendo três filmes (longas-metragens) todo santo dia, sem folga (nem quero fazer isso / ser assim).
Em segundo lugar, já que falei em cinefilia, preciso confessar algo: certa cinefilia, nas redes sociais, me incomoda e desanima. É uma cinefilia que tem os mesmos defeitos de certa militância autoproclamada progressista: um sectarismo pedante, uma agressividade niilista travestida de 15 camadas de ironia e sarcasmo, um diletantismo saturado de preconceitos (estéticos, culturais e políticos).
A intensidade dos preconceitos dessa cinefilia só rivaliza com a própria boçalidade dessa mesma galera (por isso, adoro citar o Tom Zé: "a burrice é democrática: anda à direita e à esquerda"). Em resumo: puro ativismo meramente performático e ostentação de distintivos de superioridade moral-político-intelectual. Encaixa perfeitamente com o zeitgeist da era dos algoritmos em que vivemos.
Mas eu sei que estou soando como um velho fora da curva berrando contra as nuvens. Por isso, precisei passar um tempo fora para me desintoxicar, sanar a saúde mental (principalmente mantendo distância do Twitter). Mas vejam só: o cinema me chama de volta, sempre! Mais cedo ou mais tarde, não tem outro jeito. “When you think you’re out, they PULL you right back in!”
Ao longo do ano passado, produzi bastante coisa sobre cinema: criei esta newsletter, criei um podcast, cobri presencialmente um festival internacional. O meu Letterboxd, até outubro, registrava 305 filmes vistos em 2023 (eu tinha a meta de ver um longa por dia). Mas olha só: até então, eu estava desempregado. Quando finalmente (graças a Deus!) consegui trabalho fixo, o Letterboxd foi o primeiro a ir pro saco.
Hoje, pretendo voltar, de coração. Mas não posso mais ver filme todo dia. Também não tenho como ler muita coisa (livros, revistas). E escrever sobre cinema sem ver filmes ou ler sobre filmes é uma tática que eu prefiro deixar para aqueles tipos de influencers que povoam o Instagram / Threads. Minha meta, agora, é ver um filme por semana e produzir uma crítica sobre esse mesmo filme. Que Deus me ajude!
Novidades no Blog
No último dia 01 de setembro, o meu blog cinematográfico, o querido Sombras Elétricas, completou 18 aninhos de vida. Sim, amigos, há quase vinte anos escrevo sobre cinema. Criei o blog em 2006, no Blogger. Em 2017, migrei para o WordPress, onde estou até hoje. São mais de 500 postagens, a maioria críticas de filmes, mas também gosto de escrever ensaios.
Sempre tive (longos) períodos de afastamento (não produzi nada neste último ano, mas entre 2014 e 2017 o blog ficou completamente parado). Enfim, na média, em 18 anos, é como se eu tivesse produzido dois textos por mês. Acho essa uma média boa para quem não é profissional (no sentido de extrair renda a partir de crítica de cinema). Meus dois anos mais produtivos foram 2008 e 2023.
Mas quais são as novidades, para além do retorno à ativa? Em primeiro lugar, lancei um logotipo novo (mais “clean”, mais agradável) para o blog e para a newsletter: coloquei-o como imagem destacada desta edição de número 29. Em segundo lugar, o blog voltou a ter um domínio próprio, e aproveitei também para dar uma repaginada no template (agora, também mais “clean” e “minimalista”: o menos é mais).
Em terceiro lugar, importei para o blog atual (WordPress) todo o conteúdo que estava no Blogger. Assim, vocês terão 18 anos de Sombras Elétricas reunidos no mesmo site (mais de 500 postagens, como falei), com textos escritos a partir de 2006. O blog antigo ainda está ativo no Blogger: não postarei mais nada nele, mas ele ficará lá preservado como uma peça de museu.
De resto, publiquei lá ontem uma crítica do filme Hannah Ha Ha (2022), que fez sucesso entre os críticos estadunidenses no ano passado, após a sua exibição em Sundance. No Brasil, pouca gente viu esse filme - na verdade, pouca gente, no geral, viu esse filme: no Letterboxd ele tem somente 263 reviews. Mas é um filme bonitinho, fofo (sem ironia alguma), que vale a pena conferir. Leia o texto completo:
É isso, galera, por ora. Agradeço imensamente a paciência, a compreensão e o apoio. Semana que vem tem mais, se tudo der certo. Tchau!