Caros amigos das sombras elétricas,
A Thousand and One (2023) é o primeiro longa-metragem de A.V. Rockwell. E é também um dos melhores filmes de 2023. Escrevi sobre ele aqui. O longa fez sua première em Sundance (onde venceu o Grande Prêmio do Júri), estreou no circuito comercial dos EUA em março e, até o presente momento, tem sido exibido em festivais internacionais ao redor do mundo - sem data de estreia no Brasil ainda (sequer a Mostra de SP ou o Festival do Rio deste ano irão apresentá-lo).
O filme e sua diretora merecem todos os elogios que a crítica internacional já vem fazendo. E, junto da aclamação, vem a oportunidade - para quem souber aproveitar - de conhecer os ótimos curtas realizados anteriormente pela cineasta que compõem uma série intitulada Open City Mixtape. Trata-se de 10 breves retratos audiovisuais da população marginalizada de Nova York, particularmente a população afrodescendente das classes mais populares.
Nisto, o trabalho de Rockwell lembra o do seu conterrâneo Khalik Allah, de I Walk on Water (o melhor filme do ano de 2020): estão próximos o recorte social, o olhar humano e poético, sem condescendência, sem “pornomiséria”, e o rigoroso senso estético audiovisual (os curtas de Rockwell são todos em P&B, com forte contraste noir). Os 10 filmes que compõem Open City Mixtape podem ser vistos no The Criterion Channel ou no YouTube. Ei-los ranqueados:
B.L.B. (2014): o melhor da série; em certo sentido, pode ser visto como uma prévia de A Thousand and One;
The Dreamer (2012): dando voz ao “maluco beleza” de rua;
Kids (2013): uma espécie de Cocaine Bear versão ursinho de pelúcia - cocaine teddy bear;
Heist (2012): vida “loka”;
Indigo’s Smile (Interlude) (2014): o jeito como Indigo se orgulha da etnia dela e despreza completamente qualquer tipo de patriotismo (lidando com questões de nacionalidade de uma maneira puramente pragmática) deveria servir de exemplo a toda militância progressista;
El Train (2014): o projeto Open City Mixtape recebe esse nome justamente porque cada curta é como se fosse uma faixa musical de uma coletânea; eles fazem algum sentido individualmente, mas sentido total apenas em conjunto;
A City of Children (2012): o menino querer ser tão somente um homem adulto quando crescer, em se tratando de homens, é quase uma meta impossível, como querer ser astronauta (principalmente para os mais marginalizados);
G.F.C. (2012): uma narrativa audiovisual competentíssima;
Too Much Cendi (2012): 24 segundos e o poder da imagem cinematográfica são suficientes para fazer com que sintamos o cheiro daqueles docinhos e queiramos correr até a bombonière mais próxima (a publicidade faz um uso pernicioso desse poder);
Trey (Interlude) (2012): é importante dar voz para Trey. Mas Trey sente-se, por vezes, confortável até demais perante a câmera - em um sentido de espetáculo, de vaidade mesmo. Lembra um pouco uma discussão que propus a respeito do Edifício Master de Eduardo Coutinho, aqui.
Notícias
A cineasta catalã Carla Simón, de Alcarràs (2022), está se preparando para filmar seu mais novo longa, um musical de flamenco chamado Romeria, o qual comporá uma trilogia junto de Alcarràs e de Summer 1993 (2017). Leia uma entrevista da diretora para a Variety.
O cineasta estadunidense Alexander Payne, de Nebraska (2013), está preparando o roteiro de um western, junto do roteirista David Hemingson, que já havia trabalhado com Payne em Os Rejeitados (2023). Leia entrevista do diretor na Variety.
Arthur Harari, co-roteirista de Anatomia de Uma Queda (2023, Justine Triet), está trabalhando no roteiro de uma ficção científica que será estrelada pela atriz francesa Léa Seydoux.
O mais recente longa de Terrence Malick, cujo título provisório mais atual é The Way of The Wind, ainda não tem previsão de lançamento. O filme terminou de ser rodado em 2019 e, hoje, encontra-se na “sala de edição”, segundo o produtor Alex Boden.
Terminou de ser filmada a segunda temporada (10 episódios) da série Tokyo Vice, co-produzida por Michael Mann. Ainda não há previsão de lançamento.
Esta semana, na rede Sombras Elétricas
No blog, crítica de Retratos Fantasmas (Brasil, 2023, Kléber Mendonça Filho).
No blog, crítica de Anatomia de Uma Queda (França, 2023, Justine Triet).